terça-feira, 2 de fevereiro de 2021

Canoas Retrô XVIII - O mito da Passarela da Cabeça

 

Policiais e peritos observam a cabeça

O mito da Passarela da Cabeça

Por Edison Barcellos

Historiador e pesquisador

Até 1976, Canoas contava com alguns locais, que serviam como pontos de referência, cito, o Avião, 1968, Taças da Corsan, 1973, Calçadão 1974 e outros. Mas no inicio do mês de fevereiro de 1976, além de ponto de referência, surgia uma das lendas urbanas mais conhecida e lembrada da cidade.
A Passarela da Cabeça, está, em grande medida, no imaginário canoense, sendo tema de trabalhos acadêmicos, roteiro de filme e reportagens.


O enredo da história, se dá entre a noite do dia 1ºe a madrugada do dia 2 de fevereiro.
Os personagens principais, tratavam-se dos comparsas Adílio Roseno Mendes conhecido como Parafuso, 24 anos e João Carlos Bertotto Paz, vulgo Carlinhos, 22 anos, ambos moradores do Bairro Mathias Velho. Conhecidos como praticantes de roubos e furtos nas redondezas, tiveram um desentendimento que os levaram a ameaçar-se mutuamente, onde um mataria o outro e colocaria sua cabeça em praça pública.
Bar do Motorista, Bar Pinheirinho, Boate da Célia e Bar Madrigal, são alguns dos locais frequentados pela dupla na época, citado em depoimento.

Curiosos reunidos em torno da passarela

Conforme processo judiciário, a arma do crime, uma faca de 30 centímetros, foi retirada de uma borracharia por Carlinhos, ao qual tinha a intenção de assassinar Parafuso. Os dois deslocam-se até o dique, onde Carlinhos planejou uma emboscada para seu comparsa, forjando uma história onde mostraria uma bicicleta furtada. No local, porém Parafuso desconfia da trama e consegue se esquivar do golpe e armado também,  aproveita para sacar a sua faca e desferir inúmeros golpes em seu cupincha.


Carlinhos teve sua cabeça decepada por Parafuso, relatado minuciosamente em seu depoimento. Em seguida sai do local crime, percorre um roteiro entre bares do centro da cidade, onde dança, namora, alimenta-se, com objetivo de formar um álibi e depois retorna no Dique e põe em pratica sua vingança.
Esconde a cabeça dentro de um pacote, pega um táxi e vai até a passarela que liga o Bairro Marechal Rondon com o Centro, próxima da sede da 3º Companhia do 3º Batalhão de Policia Militar responsável pelo policiamento na época antes da criação do 15º BPM.

No local, abriu o saco e deixou a cabeça de Carlinhos cair, ajeitando-a com os pés. Depois abandona o local.
A cabeça é encontrada por um vigilante que retornava do trabalho, no qual avisa a policia. O local é isolado e cercado pela imprensa, fotógrafos e curiosos.
Parafuso após 2 anos, depois de circular pela cidade, é abordado pela polícia e conduzido para a delegacia, onde acaba confessando o crime.


Julgado em 1977, foi condenado a 9 anos de reclusão, em julgamento tumultuado, com ameaça de bomba na sala de juri na Câmara de Vereadores. Seis dias após a condenação Parafuso é encontrado morto por enforcamento na cela 4 da Galeria 2 da Penitenciaria Estadual do Jacuí. Seu advogado Vanderlei Ramos alegou legitima defesa. Deixou duas cartas uma para a sogra Dona Derli e outra para sua noiva Selma.

O crime da cabeça mexeu tanto com a cidade que acabou prejudicando a campanha do prefeito Geraldo Ludwig para que a população utilizasse as passarelas na BR-116.
A passarela até hoje, depois de 45 anos é referenciada nas rodas de conversas como a Passarela da Cabeça, embora sua arquitetura já tenha se modificado.



Fonte: Facebook - Notícias da Aldeia - Canoas

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